quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Uma família disposta a doar os órgãos e um sistema falho

A morosidade na captação dos órgãos faz sofrimento de parentes aumentar. Jovem de 17 anos foi vítima de acidente em São Domingos no domingo (30/09).

O jovem Jhonys (foto) foi sepultado 72 horas após a confirmação da morte cerebral

No cemitério, emoção e revolta dos familiares. Dona Dulcinéia (ao centro) foi amparada por parentes.

Vinícius Berto

Se na postagem abaixo contamos uma história de exemplo para aumentar o número de transplantes nesse país; o que você vai ler agora é um exemplo da falta de respeito com a família de um jovem com morte cerebral, e que se transformou em um potencial doador. O exemplo da inércia dos governantes em criar um sistema de captação de órgãos mais eficaz.

Manhã de segunda-feira (31/08), Campos dos Goytacazes, Hospital Ferreira Machado, a equipe médica de plantão na UTI chama a família de Jhonys Bento da Silva (17) e comunica a morte cerebral. Dona Dulcinéia Bento da Silva (48) e seu Altair Barreto de Jesus (53) reúnem os quatro filhos e decidem, por unanimidade, pela doação dos órgãos do filho. O sentimento de tristeza dava lugar, mesmo que por um instante, ao sentimento de alegria com a possibilidade de a doação dos órgãos do filho proporcionar uma chance de vida a outras pessoas.

Final de tarde, quinta-feira (03/09), cemitério de São Francisco de Itabapoana. Depois de mais de 72 horas da constatação da morte cerebral, o corpo do jovem era sepultado. O sentimento era um só: revolta pela demora e morosidade na captação dos órgãos. “Antes não tivesse doado os órgãos. Isso só fez aumentar o nosso sofrimento”, disse o primo Gil Carlos da Conceição (25). “Foi uma falta de respeito, com a nossa família, e sem falar que dos oito órgãos possíveis, devido à demora, só puderam ser aproveitados os rins e o coração”, reclama a tia Maria da Hora.

“O meu único conforto é saber (pausa emocionada) que o coração dele bate no peito de uma outra pessoa”, disse, em um clima de forte emoção, a mãe dona Dulcinéia. Perguntei se a mãe gostaria de saber quem recebeu os órgãos do filho, e Dona Dulcinéia não titubeou. “Ai moço, eles (a equipe que captou os órgãos) falaram que não pode, mas seria uma alegria conhecer as pessoas que receberam os órgãos de meu filho”, conclui.

Esse episódio reascende a discussão sobre o falho modelo adotado no Brasil, salvo em alguns estados, de transplantes de órgãos e tecidos. O médico Drauzio Varella abordou o assunto este ano, em uma série especial para o Fantástico. A conclusão é que toda UTI do país deveria ter um profissional para cuidar da doação de órgãos, além de uma rede mais unificada e rápida. O assunto deve ser tratado com mais respeito pelas autoridades públicas, as famílias dos doadores e receptores agradecem. Agora, uma coisa é certa, se o modelo adotado no Brasil está longe do ideal, imagine querer doar um órgão de um familiar na região Norte Fluminense... É passar por todo esse sofrimento. É o momento de darmos um basta nisso!

3 comentários:

Denize disse...

Esse fato,me faz lembrar o que vivenciei em 20 /01/1999,quando infelizmente o meu filho Marcus winicius teve morte cerebral provocado por uma fatalidade idêntica a esse jovem,quando o médico constatou e me fez a comunicação e friamente um convite para a doação de Órgãos,em meio ao desespero da dor,Deus falou por mim,autorizei a doação,a cirurgia foi feita no dia 21/01,depois foi levado para o IML,só liberando para sepultamento no dia 23/01 exatamente há 10 anos atrás ,mesmo diante da Perda Irreparavel é um conforto pra mim,saber que o meu filho permanece vivo através de alguem;naquele momento a unica solicitação que eu fiz é que se poderia fazer a doação para alguem do meu município,visto que aqui existem tantos pacientes debilitados e o Dr Castro me alegou que não poderia,pq existe uma fila de espera,mas que diante da Lei,é de praxe,um órgão ir p/o Rj e outro p/o ES,desta forma uma córnea se encontra com um Senhor perto de URURAí,inclusive essa família se manifestou para me conhecer,mas tem medo da minha reação ,um rim foi doado a uma moça em Bom Jesus de Itabapoana e o outro no ES,foi noticiado nos jornais da região sobre o caso e a citação dos nomes dos receptores ,mas em momento algum,fui informada de que eu não poderia saber quem os recebeu;confesso,ainda hj n tive a coragem de buscar o documento oficial dessa doação,mas tbm não sei se suportaria conhecê-los.

Unknown disse...

Olá, Paulo!

Apesar do crescimento dos transplantes no último semestre de 2009, o Brasil ainda precisa aumentar a quantidade de doadores de órgãos e tecidos. Hoje, cerca de 65.000 pessoas estão entre a vida e a morte aguardando, em longas filas, um doador.
Em prol do aumento do número de doadores, o Ministério da Saúde convida você a fazer parte de uma blogagem coletiva a ser realizada no dia 27 de setembro, Dia Nacional da Doação de Órgãos e Tecidos. Nessa data, diversos blogueiros irão postar, ao mesmo tempo, alguma mensagem de incentivo à doação de órgãos.
Propomos também que você incentive os internautas a usarem uma peça de roupa verde, em apoio à causa.
Contamos com o seu apoio!
Simples gestos são capazes de ajudar a salvar muitas vidas.
Mais informações sobre doação de órgãos e tecidos: (http://portal.saude.gov.br/portal/aplicacoes/noticias/default.cfm?pg=dspDetalheNoticia&id_area=124&CO_NOTICIA=10592).

Unknown disse...

Parabéns denize, juro que me emocionei ao ler esse depoimento. Comcerteza seu filho vive em outras pessoas, passando paz e alegria. Por isso que é fundamental a conversa do médico com o paciente,temos que conversar com nossa família, amigos e assim manifestar a vontade de doar. Eu estava navegando e achei esse site da camapnha. http://www.doevida.com.br/ ele é muito legal, depois da uma passada por lá denise você vai se identificar bastante.

Abraço e um ótimo final de semana!