Por Saulo Pessanha, em 06-05-2011 - 10h35
Do amigo jornalista José Cunha Filho (*)
Eu me ufano
Não é sempre, mas, de quando em vez, tenho ímpetos do Conde Afonso
Celso. O tal que se ufanava do Brasil. E com razão. Há motivos de
sobra para ser ufanista. Ainda agora, por exemplo, na questão do IPVA.
Alguns proprietários de veículos, acreditando que vivem numa
democracia onde impera a lei de mercado, procuraram emplacar os seus
veículos em estados onde se cobra um valor menor pelo IPVA – um
imposto que se paga anualmente para se ter direito a rodovias bem
sinalizadas, conservadas, pavimentadas, ruas decentes, seguras, sem
buracos, essas coisinhas utópicas-.
Quem o fez está sendo caçado como se fora traficante da boca de fumo
em voga. Não faltam policia, helicópteros, fiscais, o diabo a quatro
para perseguir o desenfeliz.
Ora, há que se ufanar, meus incautos motoristas. No Paraná, onde as
diversas prefeituras do Rio de Janeiro e até órgãos governamentais
fluminenses emplacam os veículos que usam, o IPVA é baixíssimo. Coisa
de 1 a 2% por ano. Não é como aqui, onde se paga 4% sobre o valor
venal do veículo.
É que o Paraná não tem escola de samba, nem o Corcovado, nem as
praias repletas de mulatas, turistas sendo assaltados com hora
marcada- um luxo, terem um assaltantes especializados em turistas,
outros em “saidinhas de banco”, etc. –
Vá lá que tenha estradas bem pavimentadas, um padrão de vida de melhor qualidade,
ruas decentes nas suas pequenas, médias e grandes cidades. Com um IPVA menor que o do Rio? Pois tem.
São as vantagens que nos levam ao ufanismo. Aqui mesmo, graças ao
fato de vivermos num país livre, a imprensa pode falar das bocas-de-fumo
que todos conhecem, dos traficantes que interrompem com barricadas avenidas importantes.
Triste de quem vive, por exemplo, na China. Lá,o coitado do gerente
de uma fábrica de leite em pó estatal, que resolveu misturar uma
substância plástica inócua para ganhar um dinheirinho extra, é preso
em outubro, julgado em dezembro e executado em praça pública em
janeiro. E a família ainda tem que pagar a bala…
Não cobram IPVA por lá. Tem o desplante de sofrer, no Japão, um
terremoto seguido de tsunami e 30 dias depois estão com as estradas
reconstruídas, sinalizadas, varridas, coisa de malucos…
Bom, mas era para dizer que é bom viver num estado onde se cobra o
IPVA mais alto do país. Onde as rodovias são excelentes, as ruas das
cidades – inclusive Campos – primores europeus em matéria de limpeza,
conservação e manutenção.
Só cabe uma perguntinha: se o IPVA do Rio é tão justo, qual o motivo
das prefeituras e o órgãos estaduais emplacarem os veículos no Paraná?
Ah, a firma que venceu a licitação para alugar os veículos é de lá?
Não tinha nenhuma fluminense na licitação? Houve licitação?
Não é por nada não, só pra gente ter motivos para se ufanar ainda mais…
(*) José Cunha Filho
Jornalista aposentado e desmotorizado