terça-feira, 28 de setembro de 2010

As carências do Brasil

Bruna Cavalcanti - Isto é - 27/09/2010
O País avançou nas últimas duas décadas, mas enquanto não investir em áreas essenciais para o seu desenvolvimento, como saneamento, segurança e infraestrutura, jamais deixará de ser um emergente.Poucas vezes na entrecortada história da democracia brasileira os eleitores foram às urnas escolher um novo presidente tão confiantes de que o futuro reserva momentos melhores para o País como agora.
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Independentemente de quem seja o eleito ou a eleita no dia 3 de outubro, pouca gente duvida que os próximos anos serão de crescimento econômico, inflação sob controle, melhor distribuição de renda e uma generalizada melhoria na qualidade de vida. Ao longo da última década e meia, com alguns sustos e tropeções no caminho, tem sido assim e, ao que parece, os tempos do voo de galinha ficaram no passado.
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O Brasil avançou em todos os indicadores socioeconômicos, do acesso à tecnologia à distribuição de renda, da expectativa de vida à mortalidade infantil e em outras dezenas de índices que mostram um país cada vez maisigualitário.Tudo isso, no entanto, ainda está longe de ser o suficiente para colocá-lo no seleto e desejado clube das nações desenvolvidas. Áreas fundamentais para o desenvolvimento do País como saneamento básico, segurança e infraestrutura ainda registram indicadores de uma nação subdesenvolvida e mostram que o próximo presidente da República terá que olhar para eles com atenção especial se quiser elevar o Brasil à condição de país desenvolvido.
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O sistema básico de saneamento é o que melhor explicita os tão emblemáticos contrastes socioeconômicos brasileiros. Em um país que tem aviões modernos como um de seus principais itens da pauta de exportação, 40% dos domicílios não contam nem com a mais rudimentar rede de tratamento de esgoto. Isso significa que quase 90 milhões de brasileiros simplesmente despejam seus dejetos em córregos, rios ou onde for possível.
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É uma imagem do século XIX em pleno século XXI, diz Marcelo Neri, economista e chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas. Para piorar, quase 50% das habitações brasileiras não recebem água tratada e se abastecem do que houver disponível. Os reflexos dessa falta de infraestrutura são sentidos em todos os segmentos do Estado.
O mais visível deles, é claro, está no sistema público de saúde, em que invariavelmente essa população esquecida pelo Estado vai buscar socorro. De acordo com informações do Sistema Único de Saúde, o Datasus, apenas em 2009 mais de 450 mil brasileiros foram internados em hospitais públicos em razão de infecções gastrointestinais.
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Para cada uma dessas internações, o poder público desembolsou em média R$ 350. Ao final desse ano, o governo federal gastou impressionantes R$ 150 milhões para tratar dessa doença perigosa, de fato, mas que poderia ser facilmente evitada, caso as condições de higiene fossem melhores. Outro quesito que afasta o Brasil dos países de Primeiro Mundo é asegurança pública. Historicamente a cargo dos governos estaduais, só nosúltimos cinco anos é que a questão passou a ser incorporada pelo governo federal e o País começou a dar os primeiros passos na formulação de uma política nacional de segurança pública capaz de integrar os vários níveis de governo nas áreas de risco dos grandes centros urbanos.
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O problema é que, mesmo com os esforços empregados nos últimos anos, as fronteiras do País continuam um verdadeiro queijo suíço e por elas passam armas e drogas, que alimentam o crime organizado nas metrópoles. Segundo um levantamento mundial da Nações Unidas, cerca de 30 brasileiros são assassinados todos os anos para cada grupo de 100 mil habitantes. O México, que agora ocupa o noticiário mundial em virtude da barbárie das gangues de narcotraficantes, registra 11 homicídios para cada 100 mil habitantes.A infraestrutura completa o quadro das carências que precisam ser atacadas de forma urgente.
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Um estudo do Fórum Econômico Mundial classificou o Brasil como um dos piores locais do mundo nesse quesito.Entre as 20 nações pesquisadas, o País conquistou apenas a 17a posição. A nota final brasileira foi 3,4, sendo que a pontuação máxima era 10. A média dos países analisados foi 4,1. O topo do ranking ficou com a França, que obteve uma pontuação de 6,6. Agora que o País atingiu a estabilidade econômica, controlou a inflação, iniciou a distribuição de renda e atingiu um papel de protagonista no teatro da geopolítica mundial é imperativo que quem quer que seja que assuma o Planalto no dia 1o de janeiro de 2010 passe a olhar com atenção para esses indicadores.

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