
João Caldeira, o padrasto de Carla, considerava a criança como filha. Josélia da Conceição Luiz, a mãe da menina, precisou ser medicada e foi levada para o repouso do Hospital Manoel Carola. Na foto ela aparece amparada pelo marido e pela secretária de Educação Yara Chintia.
“Perdi uma princesa. Eu amava muito minha 'filha' e ela tinha um carinho especial por mim”. Essa declaração emocionante foi dada pelo trabalhador da Usina Canabrava, João Caldeira da Silva, 53 anos, popular João “Baixinho”, morador em Floresta. Ele era padrasto da menina Carla Luiz Gonçalves, cinco anos, que faleceu no Hospital Manuel Carola com suspeita de intoxicação alimentar. “Baixinho” convivia com a menina e se considerava o pai da criança. Quando casou com Josélia da Conceição Luiz, Carla estava recém nascida. “Tínhamos uma relação de pai e filha, e está sendo muito difícil pra mim”, declarou João, aos prantos. A menina deu entrada no Hospital Manoel Carola às 23h50, e logo em seguida apresentou quadro convulsivo. Os médicos conseguiram reverter o quadro, e a menina ficou em observação durante a madrugada. “Por volta das seis horas fui a Floresta apanhar roupa para minha esposa, e Carla estava se recuperando, assim como as outras crianças. Quando foi por volta das 8h veio a notícia que ela tinha falecido”, disse o padrasto. A menina foi vítima de uma segunda crise convulsiva, que foi fatal. Uma semana após um duplo homicídio, quando um homem matou o irmão e a cunhada, a comunidade de Floresta volta a se abalar.
Foto: Flori Fernandes
A intoxicaçãoQual o alimento que provocou a intoxicação alimentar na noite de ontem, 27/11, durante a festa na Creche Municipal de Floresta(foto)? Essa pergunta poderá ser respondida apenas após a análise da refeição servida na confraternização de fim de ano da Creche. Assim que soube do acontecido, a secretária de Educação e Cultura de São Francisco de Itabapoana, Yara Chintia, se certificou da existência de uma sobra da comida servida para posterior análise pela Vigilância Sanitária. O cardápio da festa era composto por feijão tropeiro, arroz e salpicão, além de sucos. Tudo foi preparado pelas funcionárias da creche que estão inconsoláveis pelo ocorrido. “Esse alimento não foi entregue pela Secretaria de Educação e Cultura à Creche. O alimento servido fez parte do cardápio da festa de fim de ano oferecida aos pais e alunos. Os professores e pessoal de apoio, com a melhor das boas intenções, organizaram uma festa com o apoio das pessoas do lugar e do comércio. Jamais introduzimos feijão tropeiro, nem tão pouco salpicão na alimentação diária dos alunos. Foi um cardápio isolado”, esclareceu a secretária de Educação Yara Chintia.
Crianças internadasAté às 14h deste sábado, seis crianças permaneciam internadas no Hospital Manoel Carola. Centenas de pessoas passaram mal e deram entrada em diversos hospitais da região. Pela proximidade com Travessão de Campos, algumas vítimas foram levadas para o hospital do distrito campista. Outras foram encaminhadas para os Hospitais Ferreira Machado e Geral de Guarus. A maioria foi medicada e liberada às 2h da madrugada. Os sintomas apresentados foram diarréia, vômito, dor de cabeça e em alguns casos febre.
Crise convulsivaDas seis crianças ainda internadas no Hospital Manoel Carola, duas são filhas da secretária doméstica Silvana Correia da Silva, 28 anos. E uma das filhas de Silvana apresentou a temida crise convulsiva, o mesmo sintoma da menina que faleceu. “Fiquei muito nervosa, mas felizmente a minha filha está se recuperando. Senti muito a morte da Carla. Ela era amiguinha de minha filha”, revelou Silvana, que contou ainda como foi o drama na comunidade. “A festa acabou por volta das 21h30, e minha filha mais nova começou a sentir os sintomas às 22h30. Fui até à casa de Jorgino Almeida (líder comunitário de Floresta) solicitar um carro para levar minha filha ao hospital. Nesse momento, ao sair na rua, notei que outras pessoas já haviam solicitado ambulâncias. Quando retornei, minha filha mais velha estava com os mesmos sintomas”, disse. O mais curioso é que apesar de consumir a mesma refeição que todos comeram, Silvana não apresentou sintoma algum. “Estou pasma. Como que eu não apresentei os sintomas?”, questiona a doméstica que provavelmente está com uma ótima imunidade.