Com a finalidade de melhorar o
transporte público no município, detectar problemas e planejar soluções,
empresas de ônibus, topiqueiros, taxistas, Entransfi, representantes de
entidades, representantes do Governo Municipal, vereadores e o público
participaram da primeira Audiência Pública para debater o transporte público em
São Francisco de Itabapoana.
O Blog temia a possibilidade de a
audiência pública se transformar em uma disputa de interesses das diversas
classes envolvidas. Não bastassem os problemas que os usuários enfrentam com o
transporte no município, o tema passa também pela necessidade de que taxistas, topiqueiros
e empresários dos ônibus se entendam e não fiquem em um ringue, enquanto a
população espera por uma melhora na qualidade do serviço. Algumas divergências
entre as categorias foram apontadas, e o que temíamos chegou a se desenhar,
entretanto a fala de representantes de associações de moradores e alguns
usuários foi fundamental para não se perder o foco no usuário, que é o grande
penalizado.
A dinâmica do evento começou com
a fala dos convidados, entre eles o presidente da Entransfi, Coronel José
Amiltom Barreto da Silva, o Presidente do Sindicato dos Taxistas de Campos,
Marcelo Vivório, o gerente de operações em transporte da Auto Viação 1001,
Cássio Santana, o empresário proprietário da Viação São Francisco, Gilson
Menezes, o secretário municipal de Transporte Renato Barreto, o economista
Joilson Melo e o Agente de Fiscalização do Detro-RJ, Indalercio Mangueira. Na
sequência falaram as pessoas inscritas e por fim os vereadores e o vice
prefeito Amaro Barros fizeram as considerações finais.
Um dos primeiros temas abordados
foi o transporte de vans legalizadas no município, cuja regulamentação é
provisória, tendo a necessidade de uma licitação das linhas para concessão
pública. Para o Coronel Amilton, com as exigências e complexidades que envolvem
uma licitação de vans, a maioria dos topiqueiros, que atualmente detém as
concessões, ficaria inviabilizada de participar, e fatalmente viriam empresas
de fora. “Enquanto nós pudermos resolver essa questão por nossos próprios
recursos acho interessante”, disse. Segundo Amilton, as leis estão
satisfatórias, e o que a Entransfi irá fazer é intensificar a exigência para
que seja cumprido o que está no decreto regulatório, ou seja, itinerários e
horários. “Estamos com um plano para cobrar dos topiqueiros e da empresa de
ônibus o cumprimento de algumas linhas como Retiro, Alegria dos Anjos , Nova
Belém e outras”, pontuou Coronel Amilton.
Em sua fala os representantes dos
taxistas, Marcelo Vivório, pontuou uma demanda da categoria que é a
regulamentação dos táxis de sete lugares em São Francisco de Itabapoana.
“Alguém há de afirmar que tem taxista rodando irregular ou utilizando a
permissão apenas para comprar carro com desconto, aí cabe ao município
fiscalizar”, disse.
O proprietário da Viação São
Francisco, Gilson Menezes, reconheceu que o serviço prestado por sua empresa
não atende à necessidade da população, em função do que ele chamou de “uma
concorrência desleal com o transporte clandestino, que vai entrando
gradativamente e depois ganha corpo”. A empresa detém as linhas ao Norte de São
Francisco de Itabapoana desde de 1998, quando venceu uma licitação.
O secretário de Transporte,
Renato Barreto, disse que é hora de haver um consenso entre Executivo,
Legislativo, empresas de ônibus e representantes do transporte alternativo.
Para Renato a briga vem de muito tempo, e quem sempre pagou a conta foi o povo.
O diretor da Viação 1001, Cássio
Santana, intitulou a linha intermunicipal de São Francisco a Campos como
“social”. “Gostaríamos de melhorar essas linhas que assumimos da São Joaquim,
mas consideramos essa linha social, pois não traz nenhuma lucratividade, e nós
por obrigação temos que operar”, disse Cássio.
Participando como consultor, o
economista Joilson Melo lembrou que recentemente a Alerj – Assembleia Legislativa
do Estado do Rio de Janeiro, promoveu uma audiência pública que tratou dos
serviços prestados pela concessionária de transporte coletivo Auto Viação 1001,
campeã em reclamação dos usuários do Estado do Rio de Janeiro. E que no
encontro foi anunciado que até o fim do ano acontecerão licitações em diversas
linhas dentro do Estado. “A hora é agora de São Francisco de Itabapoana cobrar
para que haja novas licitações para a linha São Francisco a Campos”, disse.
A audiência pública foi
enriquecida com a participação de 11 pessoas da platéia. Alguns taxistas,
outros topiqueiros e alguns usuários. Representando os topiqueiros legalizados
em São Francisco de Itabapoa, Cris Estevam se comprometeu a atender a um plano
que a Entransfi irá colocar em prática de atender a algumas comunidades que
estão compreendidas na legislação em vigor do transporte alternativo municipal,
mas que estão sem transporte, como Campo Novo e Nova Belém. Aliás esta última
esteve representada pelo presidente da Associação do Carrapato, Alaido Gomes,
que cobrou uma solução para o transporte de sua comunidade. Como presidente do
Sindicato dos Servidores, Cirábio Ramos também manifestou a sua preocupação com
a classe que representa. “Infelizmente nós temos companheiros filiados ao sindicato,
principalmente professores, que quase desistiram da vaga pelos problemas do
transporte público para chegarem ao trabalho”, revela.
O taxista Rodrigo Freitas
endossou as palavras de Marcelo Vivório, no que se refere à aprovação de um
dispositivo legal que regulamente o táxi de 7 lugares, como o Doblô. O
topiqueiro Alexandre Rosalvo abordou a necessidade de fiscalização para que as
vans da linha de Campos a São Francisco não levem os passageiros até Santa
Clara, e sim que os entreguem aos topiqueiros que fazem a linha municipal para
Santa Clara.
Na opinião de Cristiane de Azevedo, se as vans legalizadas e ilegais pararem hoje, a cidade para também, já que os ônibus não suprem sozinhos a necessidade do município. “Pra se ter uma ideia, alguns médicos atendem aqui em São Francisco até as 20 horas, e aí nós não podemos marcar uma consulta à noite, pois não tem transporte nesse horário. Isso em Santa Clara, que é perto; você imagina a situação de comunidades mais distantes”, opinou Cristiane. Por falar em locais distantes, compareceu à Audiência dois moradores da região do Assentamento Tipity, no extremo Norte do município, Vera Lúcia de Almeida e Guilherme do Carmo, ambos universitários. Segundo eles não há nenhum tipo de transporte público na região da Tipity, Máquina, Lagoa Feia e Morro do Bode. Eles aproveitaram a oportunidade e reivindicaram duas questões: o transporte universitário para a região de Tipity e uma ambulância para a comunidade.
A carioca Neide Lopes,
frequentadora de São Francisco de Itabapoana e proprietária de uma casa na
cidade, contou que é grande a quantidade de carona que dá em seu carro
particular. “Ontem mesmo havia um casal de idosos querendo se deslocar de Volta
Redonda até São Francisco. Eles viriam a pé, mas nós oferecemos uma carona”,
conta. Já a moradora de Gargaú Osana conclamou para que o que foi debatido saia
do papel. Na sua visão, o bom senso deve imperar nas relações entre
topiqueiros, ônibus e táxis. Já Jorge Lucio Ferreira fez críticas a alguns
topiqueiros que preferem “comer o filé, mas na hora de roer o osso ninguém
quer”, se referindo a comunidades longínquas, que não contam com van, como
Lagoa Feia, Vilão, Morro do Bode e outras.
O que lamentamos foi a ausência
de um diretor do Detro-RJ, que é o órgão que concede e fiscaliza as linhas
intermunicipais. Como agente de fiscalização, Indalercio Mangueira falou apenas
sobre a fiscalização, o que não atendeu as expectativas. O Blog deixa o
questionamento: Porque a demora em se legalizar o transporte alternativo da linha
São Francisco a Campos?
O vice prefeito Amaro Barros
esteve representando o Poder Executivo. Ao final da Audiência Pública os
vereadores se comprometeram em se unirem à Comissão de Obras e Serviços
Públicos, que dará seguimento ao que foi debatido, e discutirá soluções com
todos os setores envolvidos no transporte Público. Compareceram à Audiência o presidente da
Câmara, vereador Claudinho Viana, e os vereadores Marcelo Garcia, Yara Cinthia,
Patrícia Cherene, Pachola, Alexandre Barrão, Caboclo, Marquinho de Santo
Amaro, Jamilton Chaô, Fabinho do
Estaleiro e Raliston Souza. Por problemas de saúde, não compareceram José
Cherene e Renato de Buena. O Blog
parabeniza à Câmara de São Francisco de Itabapoana pela Audiência Pública.
Reportagem e fotos: Vinícius
Berto
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