Para nossa alegria postamos aqui uma crônica enviada pelo
escritor Pedro Paulo de Souza Nunes, membro da Academia de Letras e Artes da
Serra, Espírito Santo. Este sanfranciscano ausente matou a saudade de sua
terrinha, a pacata Alegria dos Anjos, Zona Rural de São Francisco de
Itabapoana. A visita rendeu uma bela crônica, que com muito prazer o Blog
publica. Confira:
Prezado sr. Paulo Noel, envio crônica de minha autoria
intitulada Alegria dos Anjos, onde estive visitando amigos e familiares após 30
anos de ausência. Resido em Serra ES e sou nascido em distrito de São João da
Barra, atualmente São Francisco de Itabapoana. Na semana em que permaneci em
Alegria dos Anjos tive o prazer de ouvir seu programa e aproveito para
parabenizar pelo bom nível apresentado.
Gostaria que lesse minha crônica e autorizo a publicação
no blog, caso seja do interesse.
Um grande abraço.
Alegria dos Anjos
Pedro Paulo de Souza Nunes
“Vai demorar mais trinta anos pra voltar Paulinho?” A pergunta feita em tom severo veio
acompanhada de lágrimas que deslizaram suavemente na face curtida pelo tempo e
muito sol ao longo dos setenta anos dessa doce – e também braba! – criatura de
Deus conhecida por Ricardo Marinheiro, meu tio Ricardo. Tia Edilce, a
companheira por cinquenta anos, apressou-se em responder em meu lugar. Chegara
alguns dias antes cheio de saudade de tios e primos, alguns dos últimos ainda
nem conhecidos tal o tempo de afastamento.
O distrito no Norte Fluminense antes pertencente a São João da Barra
emancipado em 1995 virou São Francisco de Itabapoana, praia e roça separados
por menos de vinte quilômetros.
Pisei o chão de onde meus pais tiraram o sustento para
dar conta da numerosa prole. Lá estão as plantações de mandioca, aipim, cana e
abacaxi. E pasto para o gado. Tudo muito verde apesar do sol forte de
fevereiro. Igualmente fartos os pés de manga e de goiaba além dos laranjais de
seleta, lima e bahia. Uma verdadeira benção.
Andei, andei... O coração batia forte em busca do tempo
perdido. Não via a hora de colocar meus olhos em gentes tão importantes nos
meus primeiros anos de existência. O nome de cada um bebi como se bebe água
fresca, transformando cada letra em gotículas claras e potáveis. Só assim para
matar minha sede de alegria. E de Alegria dos Anjos, o lugar das primeiras
risadas infantis. E também das primeiras lágrimas.
Quem meus olhos viram além de Titinha, Mulata, Edilson,
João e Serginho: Ricardo, Edilce, Sirábio, Celso, Sérgio George, Mauricinho,
Érica e Andiara; Zé Olímpio, Neínha, Mateus e Abner; Manoel, Valdineia e Lora;
Mariazinha, Maldinho e Edmara; Maria – (desde as mortes de Antoninho e Santinha
a mais velha da prole de Geraldina e Antônio de Souza) e Sandra; Adriano de
Bolero, Gerbal e Fátima; Felipe e Max Mata, pretensos futuros Marinheiros
(juízo rapazes!); Silvano Papaco, Lulu e Bebeto Ramos (quase prefeito);
Genaína, Fabrine, Larissa e Dara as primas-moças mais bonitas do lugar; e – como
esquecer? – Bárbara, quatro anos de boniteza e metidez, se quiser futura modelo
internacional, tal desenvoltura e pompa. Um time de primeira, convenhamos.
Ah, minha Alegria dos Anjos... Tão pouco tempo por aí,
mas é como se a geografia de ruas e trilhas de terra batida fossem artérias do
meu coração. Esse mesmo coração que acelerou brevemente ao ser informado por
João que dona Nair, nossa querida primeira professora já não se encontrava
entre nós. Ah, Alegria dos Anjos... Até os espinhos grudados nos pelos de
minhas pernas pareciam amigos e benfazejos e os marimbondos permaneceram na
casinha fingindo não notar aquela mão boba tão próxima no galho farto do
laranjal.
Recordando os olhos marejados de meu tio igualmente me
emociono e constato que nem se quisesse poderia ficar longe desses maravilhosos
pedaços de minha vida. Afinal, como eles me apresentam, sou Paulinho filho de
Santinha e Chico Marinheiro e como tal não posso negar minhas mais férteis
raízes. Volto logo meu tio, pros braços acolhedores da família e dos amigos. E
para o aconchego às vezes espinhado, mas sempre terno de Alegria dos Anjos, o
nome mais bonito para designar um lugar aqui na terra.
(Pedro Paulo de Souza Nunes é escritor, membro da
Academia de Letras e Artes da Serra ES e natural do município de São Francisco
de Itabapoana, RJ).
Foto: Google Street View
4 comentários:
Parabéns pela iniciativa da publicação.
Parabéns pela iniciativa da publicação.
parabéns pela publicação.
Que lindo texto e que bom que ele nos deixou compartilhar. Deve ser muito bom saber escrever assim.
Abraços,
Lucia
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