sexta-feira, 1 de março de 2013

Memórias de Alegria dos Anjos: escritor visita terra natal e se inspira para escrever bela crônica



Para nossa alegria postamos aqui uma crônica enviada pelo escritor Pedro Paulo de Souza Nunes, membro da Academia de Letras e Artes da Serra, Espírito Santo. Este sanfranciscano ausente matou a saudade de sua terrinha, a pacata Alegria dos Anjos, Zona Rural de São Francisco de Itabapoana. A visita rendeu uma bela crônica, que com muito prazer o Blog publica. Confira:

Prezado sr. Paulo Noel, envio crônica de minha autoria intitulada Alegria dos Anjos, onde estive visitando amigos e familiares após 30 anos de ausência. Resido em Serra ES e sou nascido em distrito de São João da Barra, atualmente São Francisco de Itabapoana. Na semana em que permaneci em Alegria dos Anjos tive o prazer de ouvir seu programa e aproveito para parabenizar pelo bom nível apresentado.

Gostaria que lesse minha crônica e autorizo a publicação no blog, caso seja do interesse.

Um grande abraço.

Alegria dos Anjos
Pedro Paulo de Souza Nunes

“Vai demorar mais trinta anos pra voltar Paulinho?”  A pergunta feita em tom severo veio acompanhada de lágrimas que deslizaram suavemente na face curtida pelo tempo e muito sol ao longo dos setenta anos dessa doce – e também braba! – criatura de Deus conhecida por Ricardo Marinheiro, meu tio Ricardo. Tia Edilce, a companheira por cinquenta anos, apressou-se em responder em meu lugar. Chegara alguns dias antes cheio de saudade de tios e primos, alguns dos últimos ainda nem conhecidos tal o tempo de afastamento.  O distrito no Norte Fluminense antes pertencente a São João da Barra emancipado em 1995 virou São Francisco de Itabapoana, praia e roça separados por menos de vinte quilômetros. 

Pisei o chão de onde meus pais tiraram o sustento para dar conta da numerosa prole. Lá estão as plantações de mandioca, aipim, cana e abacaxi. E pasto para o gado. Tudo muito verde apesar do sol forte de fevereiro. Igualmente fartos os pés de manga e de goiaba além dos laranjais de seleta, lima e bahia. Uma verdadeira benção.

Andei, andei... O coração batia forte em busca do tempo perdido. Não via a hora de colocar meus olhos em gentes tão importantes nos meus primeiros anos de existência. O nome de cada um bebi como se bebe água fresca, transformando cada letra em gotículas claras e potáveis. Só assim para matar minha sede de alegria. E de Alegria dos Anjos, o lugar das primeiras risadas infantis. E também das primeiras lágrimas.

Quem meus olhos viram além de Titinha, Mulata, Edilson, João e Serginho: Ricardo, Edilce, Sirábio, Celso, Sérgio George, Mauricinho, Érica e Andiara; Zé Olímpio, Neínha, Mateus e Abner; Manoel, Valdineia e Lora; Mariazinha, Maldinho e Edmara; Maria – (desde as mortes de Antoninho e Santinha a mais velha da prole de Geraldina e Antônio de Souza) e Sandra; Adriano de Bolero, Gerbal e Fátima; Felipe e Max Mata, pretensos futuros Marinheiros (juízo rapazes!); Silvano Papaco, Lulu e Bebeto Ramos (quase prefeito); Genaína, Fabrine, Larissa e Dara as primas-moças mais bonitas do lugar; e – como esquecer? – Bárbara, quatro anos de boniteza e metidez, se quiser futura modelo internacional, tal desenvoltura e pompa. Um time de primeira, convenhamos.

Ah, minha Alegria dos Anjos... Tão pouco tempo por aí, mas é como se a geografia de ruas e trilhas de terra batida fossem artérias do meu coração. Esse mesmo coração que acelerou brevemente ao ser informado por João que dona Nair, nossa querida primeira professora já não se encontrava entre nós. Ah, Alegria dos Anjos... Até os espinhos grudados nos pelos de minhas pernas pareciam amigos e benfazejos e os marimbondos permaneceram na casinha fingindo não notar aquela mão boba tão próxima no galho farto do laranjal.

Recordando os olhos marejados de meu tio igualmente me emociono e constato que nem se quisesse poderia ficar longe desses maravilhosos pedaços de minha vida. Afinal, como eles me apresentam, sou Paulinho filho de Santinha e Chico Marinheiro e como tal não posso negar minhas mais férteis raízes. Volto logo meu tio, pros braços acolhedores da família e dos amigos. E para o aconchego às vezes espinhado, mas sempre terno de Alegria dos Anjos, o nome mais bonito para designar um lugar aqui na terra.    
                                  
(Pedro Paulo de Souza Nunes é escritor, membro da Academia de Letras e Artes da Serra ES e natural do município de São Francisco de Itabapoana, RJ).
Foto: Google Street View

4 comentários:

Unknown disse...

Parabéns pela iniciativa da publicação.

Unknown disse...

Parabéns pela iniciativa da publicação.

Unknown disse...

parabéns pela publicação.

lucia disse...

Que lindo texto e que bom que ele nos deixou compartilhar. Deve ser muito bom saber escrever assim.
Abraços,
Lucia